Amor vivo, texto morto. E a dificuldade para falar do tema, quando o peito está tranqüilo e desafogado. E a página em branco cansada de posar e não se transformar. À espera da criatividade acordar do coma.
Quando o amor não fere, palavras sobre ele têm jeito de garota
careta. Garota que leva lancheira para a escola no ensino médio. Que a mãe não
deixa se divertir nas tarde de algum shopping do bairro com as amigas e óbvias paqueras. Garota
apática.
A felicidade é a depressão do texto. É a caneta sem
tinta. Amor devolvido escreve de olhos secos e sorriso na cara. Bagunça a vocação. É texto a lápis, com a segurança da borracha. Páginas vazias. Sem motivos para
a melancolia, a tela silenciosa é mais encarada do que provocada. O câncer
do texto é ter o coração em paz.
Procuro pela minha próxima ferida. Não posso largar a única
desculpa que tenho para viver. Preciso respirar empedrado pros dias
fazerem sentido. Preciso de caneta. Pouco papel. Adrenalina nas teclas.
Desapareça, moço. Fique aí, longe, de costas pra mim. Mas me encare,
de vez em quando, para eu ter um porquê.