terça-feira, 18 de junho de 2013

ROBERTA INDICA: PORNOPOPEIA, DE REINALDO MORAES



  O PRAZER DA LÍNGUA


Ou a língua que dá prazer? É... língua é bom...

Pra ser bem sincera, faz um tempo que eu estou brigando com a folha em branco, pensando como falar sobre esse livro.

Mas tudo bem, to igual ao Zeca, protagonista do PORNOPOPEIA.
Ele passa boa parte desse romance brigando com uma folha em branco também. Mas eu, diferente dele, sou mais, digamos, ajuizadinha nessa briga.

O Zeca é cineasta, ou foi, agora ele está tentando escrever um roteiro de vídeo institucional de embutidos de frango. Já passei por isso. Ter bloqueio criativo pra escrever roteiro de institucional é foda.

Mas é daí que parte PORNOPOPEIA, de Reinaldo Moraes.
E é mesmo um épico. Uma epopeia pornô, como o nome tão obviamente sugere.

E o título é só a primeira das maravilhosas, deliciosas, saborosíssimas brincadeiras, lambidas, trepadas com a língua portuguesa que o Reinaldo Moraes faz.

Uma verdadeira suruba linguística cheia de imagens drogadas, doidas, dadeiras...

Ihhh, olha lá, to me perdendo na narrativa, que nem o Zeca se perde nos dias dele.

Vamos recomeçar.

Dessa vez, prometi a mim mesma que não ia colocar no post desse livro nenhum trecho. Nenhum. Porque não ia me fazer essa tortura de ter que escolher um ou outro trecho. É simplesmente impossível.

Mas se você quiser um conselho, desses que bêbado dá no fim da noite no boteco, me escute: a próxima vez que você estiver flanando por uma livraria qualquer, folheie PORNOPOPEIA e entenda o que eu estou dizendo.
Não, melhor: compra PORNOPOPEIA e entenda o que eu estou dizendo.

PORNOPOPEIA é um dos melhores romances que li nos últimos tempos.

Mas não vou continuar sem dar um aviso: sim, PORNOPOPEIA é sujo, é cafajeste, é imoral, é machista, é fedorento. Mas é só prazer, do começo ao fim.

Reinaldo Moraes mete em todos os lados: na cabeça com a narrativa simplesmente genial. Na boca, com momentos de rolar de rir.
E lá, porque tem cenas, que se pretendem, excitantes. (a não ser que você seja uma freira moralista)
Tudo bem que uma das características do livro é quebrar a excitação do momento, coisa que Reinaldo Moraes faz tãããoo bem. Zeca, o protagonista, sai em devaneios até nos momentos mais sórdidos: olhando pra bunda (pra dentro da bunda) de uma puta, por exemplo.

Mas venhamos e convenhamos, não é todo dia que nós, mulheres, temos a generosidade de um escritor de nos escancarar como funciona a cabeça de um verdadeiro cafajeste de olhos azuis.
E te garanto que não é a única coisa que Reinaldo escancara nesse livro, ou arreganha, como preferir!

O Zeca é a metáfora perfeita do homem (e mulher?) contemporâneos. Quer tudo agora. Na hora. Satisfazer o desejo já. Mimado, niilista, egoísta e descartável – como a própria contemporaneidade.

Mas a verdade é que Zeca sabe como ninguém caminhar pela boca do lixo de São Paulo, lê-se baixo Augusta, Santa Cecília, Centrão. E sabe como ninguém se meter em encrenca. E se divertir.

Ele só não consegue escrever o tal roteiro de institucional de embutidos de frango.

Se eu fosse você, eu seguiria meu conselho (e eu daria o mesmo conselho se nós estivéssemos conversando num boteco perto da Praça Roosevelt). Não deixe de ler PORNOPOPEIA
Só não diga que eu não avisei sobre o que se tratava...

Serviço: PORNOPOPEIA
Autor: Reinaldo Moraes
Editora: Objetiva


*

A autora do post: Roberta Nader é ativista pra mudar o mundo. Roteirista no horário comercial. Leitora compulsiva. Escrever é uma vontade... Que nunca passa. 
Leia o blog dela clicando aqui.

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