terça-feira, 12 de março de 2013

Quem manda no humor do escritório é o desempenho do time.


Seria uma boa segunda-feira, não fosse a tragédia do domingo.

O sol protagonizava bons momentos no céu, driblando nuvens adversárias. O trânsito fluía sem rivalidade. Meu tanque, amarrotado de gasolina, parecia gritar Gol de tão eufórico.

E no rádio eu ouvia um CD só com os clássicos da Roxette. Entende? Eu tinha uma prévia bem satisfatória da minha segundona, não fosse ontem. Ontem, quando os caras bebiam cerveja com os olhos grudados na televisão do bar, ou de casa mesmo.

Ou nem bebiam, porque já suavam amontoados nas arquibancadas dos estádios. Domingo, quando eles gritavam Chupa, Juiz ladrão, Impedimento de c... é r...

Quando a bola não tocava em rede inimiga.

Quando o desespero esfaqueava cada coração corintiano e eu, sei lá, devia estar lendo uma revista, constantemente interrompida por rojões e vuvuzelas – porte de vuvuzela ainda não dá cadeia?

Apesar de manter uma vida bem distante das partidas de futebol, é impossível ignorar o fim de um jogo. É impossível ignorar uma derrota corintiana. A rua onde moro, contaminada por palmeirenses, grita Chupa Corinthians. Meu irmão manda mensagens provocativas a todos os amigos gaviões.

Os carros buzinam eufóricos como se comemorassem a aprovação na Inspeção Veicular. É difícil fazer vistas grossas a tanto show. No meu caso, absorvida a informação (tá, o Corinthians perdeu) sempre volto pra revista.

Aquela tinha tudo pra ser uma segunda-feira agradável, mas.

Chegando ao trabalho, a sala da redação estava fria por causa do ar-condicionado. Não, não era só o ar-condicionado. Era um frio diferente. Um frio quase. O meu Bom Dia foi ignorado.

O tipo de frio que implora por calor humano. A minha saia não fomentou um comentário mais engraçadinho. Ainda arrisquei uma piada meia hora depois e fracassei.

Nem respiravam. A manhã correu silenciosa, como a Bahia deveria ser fora de temporada, até que.

Eu não me lembro do nome dele. Sei que usava a camisa do Palmeiras. Aquela fluorescente. E a voz dele trincou a camada de gelo da sala com um Três a Zero! que entrou ricocheteando todos os corintianos – ou seja, a maioria dos homens da sala - que fez a minha ficha, de pessoa indiferente ao futebol, cair.

Finalmente bocas se abriram culpando juiz, bandeirinhas, faltas negadas, pênaltis injustos e jogo comprado. Na minha opinião, o texto na manga de todo torcedor com o coração ferido por um resultado desastroso. O humor dos meus colegas de sala era diretamente influenciado pelo desempenho do time.

Para um cara isso soa bastante óbvio, mas não pra maioria das mulheres que não liga muito pro futebol, como eu. Nunca vi mau humor feminino porque a vilã se safou no final da novela das oito, entende?

Se quisesse continuar a trabalhar com fanáticos corintianos, eu teria de respeitar a ressaca da derrota. Não que eu entenda essa dor. Só pego mau humor quando tenho a conta negativa ou um relacionamento sem perspectiva.

Me concentrei com dedicação para evitar palavras e pensamentos que pudessem provocar ataques de ira durante aquela tarde. Fanáticos estão sempre esperando ser provocados – mesmo que de brincadeira – por uma desconhecedora do assunto e assim descarregar toda a raiva do insucesso em campo.

Passei a torcer pela vitória do Timão. Era isso ou trabalhar em um biblioteca entupida de funcionários públicos toda segunda-feira. Entende?

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

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