Depois do vinho evaporar, só a garrafa abandonada na pia e meus pés desentendidos, que estapeiam o chão fora do compasso, como se dançando para evocar chuva um; sol, o outro. A palavra e a razão adormecidas, incapazes da prisão discreta do controle.
Durante a mão gelada, durante uma noite gelada, durante o copo gelado; o corpo quente. Durante a transição de um não-vou para o pode-ser,
até chegar ao eu-vou-foda-se.
Enquanto a lua alcança o topo de um céu preto, chamuscado do
glíter cor de prata das estrelas. Enquanto o que é, não deveria ser. Enquanto o
passado carimba acelerado o coração, conforme os passos gingam tortos, a língua
rocambola.
Mesmo que verdade. Mesmo que indelével. Mesmo que a melancolia
estoure o peito de tanto (a frase que não deve ser soprada)
Depois, quando o rosto for manchado por páginas de um diário
contaminado de felicidade e trancado pra sempre, ela vai secar as olheiras e
dormir. E esquecer. Ou sonhar, pra que tudo deixe de existir, assim que as
pestanas se sentirem obrigadas a se destrancar, para que um novo dia continue.