terça-feira, 17 de abril de 2007

A GATA E O CAFÉ


Era uma gatinha muito particular. Chegava a casa da dona pela manhã, após longos passeios pelos bueiros da cidade. Já não era mais branquinha. O tom cinza de poeira cobria seus pelos curtos. Seu reloginho biológico avisava as oito horas da manhã, então ela aparecia pela entrada dos fundos da casa. Miando. Miava. Localizava o rosto moreno da dona, sempre à mesa da copa, que se levantava e servia-lhe a ração de salmão & atum na tigela verde. Na vermelha, água.
A dona da gata voltava ao seu café da manhã. Manteiga, pão francês, banana, leite e café. O cheirinho gostoso do café. Toda manhã ele visitava a cozinha da casa de pé-direito baixinho, baixinho. Saía da cafeteira italiana, que chiava logo que a água fervia. Chi chi. Chegava ao nariz grande da dona. Que cheirinho bom. Atravessava a porta da cozinha, rumo à lavanderia. Passeava pelas roupas ainda molhadas e dava bom dia ao sol. Era quando a gatinha acordava. Ela, que dormia no telhado em cima da máquina de lavar roupas, toda as noites, sem conhecimento da mulher morena, despertava assim que o cheirinho do café recém-passado entrava no seu nariz geladinho e molhado.
Terminada a refeição, gata e dona sentiam a barriga cheia. Uma moleza. A gata entrava na cozinha novamente, muda, e olhava a humana com seus olhinhos amarelos. A mulher pegava uma xícara de plástico e preenchia com o café cheiroso. Levava ao chão. E assim a gata bebia todo o líquido pretinho e gostoso. Não dormia o dia inteiro. Depois da última gota, as duas, cúmplices, se olhavam de novo. A dona recebia um “miaubrigada” da bichana, que partia. Não havia desespero, nem preocupação por parte da mulher. A gatinha voltaria no dia seguinte, às oito em ponto, assim que sentisse aquele cheirinho.
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